A compreensão histórica dos estudos sobre Comunidades e Sociedades pode auxiliar as organizações a compreenderem o porquê de a Colaboração e a Interatividade serem tão valorizadas pelos consumidores.
Antes de tudo um olhar sobre as Comunidades
A noção de “comunidade” evoluiu de um quase “ideal” de família e aldeia para abarcar um maior conjunto de grupos humanos e interesses com o passar do tempo. O conceito passou a incluir a idéia de relações sociais que indivíduos com as seguintes características compartilham:
1. Base territorial comum (lugar físico, como o bairro ou a cidade)
2. Interesses comuns (religiosos, profissionais, sociais, etc)
3. Colaboração para um fim comum
As comunidades reais quase desaparecem
De acordo com Raquel da Cunha Recuero (UFRGS):
“Ray Oldenburg disse que haveriam três tipos importantes de lugar em nossa vida cotidiana: o lar, o trabalho e os “terceiros lugares”, referentes àqueles onde os laços sociais fomentadores das comunidades seriam formados, como a igreja, o bar, a praça e etc.
Esses lugares seriam mais propícios para a relação social que ele julga necessária para o “sentimento de comunidade”, porque seriam aqueles onde existe o “lazer”, onde as pessoas encontram-se de modo desinteressado para se divertirem.
Como esses lugares estariam desaparecendo da vida moderna, devido às atribulações do dia a dia, as pessoas estariam sentindo que o “sentimento de comunidade” estaria em falta.”
Howarld Schultz (Chairman e CEO da Starbucks) em seu excelente livro Pour Your Heart Into It defende explicitamente que uma das causas de sucesso da rede de cafeterias baseou-se na possibilidade de oferecer aos consumidores o “terceiro lugar”.
As redes sociais aparecem – ou devemos chamá-las de igrejas, bares e praças do mundo pós-moderno?
– Será que de alguma maneira a ausência do sentimento de comunidade levou ao surgimento das comunidades virtuais?
As redes sociais por sua vez permitiram às pessoas realizarem, de certa maneira, quase tudo o que fazem nas praças, bares e igrejas do mundo real, como: solicitar informações, colaborar, comprar, vender e barganhar produtos, se relacionar com conhecidos e estranhos, etc. A principal diferença é que isso é realizado online.
Particularmente não pretendemos encontrar amigos e familiares em um restaurante ou mesmo igreja online. Por outro lado, conseguimo-nos imaginar indo ao Médico ou a Faculdade pela Internet.
Se as pessoas querem participar de comunidades (i.e: interagir e colaborar), porque não criar campanhas publicitárias que promovam isso?
Em julho de 2008, a Mozilla Foundation estabeleceu um novo recorde mundial. Em 24 horas, seu navegador Web (Firefox) foi baixado por 8.002.530 de pessoas.
As principais razões disso são duas:
1. A empresa articulou uma estratégia de marketing que buscou alavancar a presença em diversas redes sociais e também em promover ações em portais de Internet que auxiliariam a levar internautas à página de download da empresa.
2. O Firefox é um software de código aberto, ou seja, interação e colaboração estão em seu cerne. Isso auxiliou no desenvolvimento de uma comunidade de “fans – usuários – desenvolvedores” que estarão dispostos a defender e promover as ações da empresa.
A Ford está apostando o sucesso do Fiesta em blogs, tweets e no Facebook.
Em janeiro de 2009 a empresa entregou a 100 jovens norte-americanos 100 unidades do Fiesta para que eles o testem por 6 meses. Em troca, esses jovens só precisam realizar algumas missões e compartilhar suas experiências online (Flickr, Youtube, Twitter e Facebook).
- Twitter: 6.389 seguidores
- Youtube: 80.000 vídeos assistidos
O objetivo da empresa é promover a idéia de que carros compactos (ou como os norte-americanos chamam: estilo europeu) podem ser bacanas. Talvez mais do que isso, a centenária gigante de automóveis queira parecer como uma empresa “bacana e antenada” – o que em tempos como os nossos não é nem um pouco fácil para um fabricante de automóveis norte-americano.
Definitivamente foi uma ação inteligente. O modelo antigo das milionárias campanhas publicitárias suportadas por artigos da chamada “mídia-especializada” parece não funcionar mais. Consumidores buscam informações não enviesadas e fruto da experiência de uso de “pessoas reais” que possam contactar, se relacionar, se espelhar e até conhecer.
Foto: http://www.flickr.com/photos/fiestamovement/page1/
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=lBs8jPDPveg
Conclusão
Cada vez mais o movimento de colaboração e interação mostra que veio para fazer parte definitiva da vida das pessoas e, por decorrência, dos planos de marketing das empresas. Há alguns anos as pessoas alardeavam que a Internet privaria as pessoas de se relacionarem mutuamente… mas o que vemos hoje é exatamente o contrário. E, apesar de estar um pouco difícil para as praças (segurança e tudo mais), bares e, principalmente, igrejas no mundo real, não param de abrir e crescer.
Links de interesse:
Mozilla Blog: Set a Firefox World Record!
http://blog.mozilla.com/blog/2008/05/28/set-a-firefox-world-record/
http://www.spreadfirefox.com/en-US/worldrecord
Wikipedia: Lista das redes sociais mais importantes:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_social_networking_websites
Blog Harvard Business Rewiew: How Ford Got Social Marketing Right http://blogs.hbr.org/cs/2010/01/ford_recently_wrapped_the_firs.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+harvardbusiness+%28HBR.org%29&utm_content=Google+Reader
Artigo Wired: Are you cool enough to drive a Ford Fiesta?
http://www.wired.com/autopia/2009/02/are-you-cool-en/
Site Oficial: Fiesta Movement
http://www.fiestamovement.com/