O Windows 8 quer ser Pop

Isto é Dinheiro, Junho, 2012

Grande aposta da Microsoft para emplacar no setor de tablets, a nova versão do sistema operacional da empresa cai nas graças dos fabricantes e promete virar hit do mercado.

Por Rodrigo CAETANO

Deter 95% de um setor, como a Microsoft na área de sistemas operacionais para computadores, é um sonho quase inatingível para a totalidade das grandes empresas, independentemente da área de atuação. No caso da companhia de Bill Gates, no entanto, essa hegemonia não é suficiente para garantir-lhe tranquilidade em relação ao futuro. Isso porque o seu produto, o Windows, ainda não decolou no mercado da mobilidade, composto por smartphones e tablets, que despontam como o principal campo de negócios da tecnologia daqui para a frente. Nesse setor, quem vem dando as cartas são duas das maiores concorrentes da empresa de Seattle: a Apple, líder entre os tablets com o iPad, e o Google, que domina o segmento de celulares com o sistema Android, desenvolvido por ele e utilizado pela maioria dos fabricantes.

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Expectativa: aguardado para outubro, o novo software da companhia do CEO Steve Ballmer
vai disputar mercado com Apple e Google.
No entanto, aparentemente a festa começou a ficar mais divertida para a Microsoft. Na semana passada, durante a Computex, uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, realizada em Taipei, capital de Taiwan, alguns dos principais fabricantes de tablets anunciaram produtos com o Windows 8. Trata-se da primeira versão do sistema mais utilizado no mundo que é preparada para dispositivos móveis e, por isso mesmo, é a grande aposta da companhia para virar pop no badalado mundo das tábuas digitais. Mesmo sem contar oficialmente com o software, que só deve ser lançado em outubro, empresas como Samsung, Asus e Acer deram uma prévia de como serão os equipamentos baseados na plataforma da Microsoft. Os grandes destaques da feira foram os chamados híbridos, misturas de notebooks e tablets.
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A Samsung, por exemplo, apresentou dois aparelhos que parecem notebooks tradicionais, mas contam com telas que podem ser destacadas dos teclados e usadas como tablets. O chairman da fabricante de computadores taiwanesa Asus, Johnny Shih, também mostrou aos consumidores produtos com essas características. A empresa criadora do netbook aposta também em um desktop que, segundo as palavras de Shih, se transforma no maior tablet do mundo. Para o gerente de marketing da empresa no Brasil, Guido Alves, as novas funcionalidades tornam o Windows 8 muito atraente para empresas e consumidores. “Estamos ansiosos”, diz. Já a Acer trouxe para o evento, além de tablets, modelos de notebooks e desktops com o sistema da Microsoft.
A variedade de equipamentos com o Windows 8 como principal interface também chama a atenção. Alguns deles, como o notebook de duas telas desenvolvido pela Asus, não se encaixam em nenhuma categoria de mercado. Outra fabricante que já está se preparando para o novo sistema é a HP. Segundo Fernando Soares, gerente de produtos e novos negócios da empresa no Brasil, a partir do lançamento do Windows 8, os modelos que hoje são vendidos com a versão anterior do software passarão a contar com a mais recente. O desafio da Microsoft com seu novo sistema operacional é, além de assegurar seu domínio no mercado de computadores, redefinir seu posicionamento na área de mobilidade. A razão é simples: atualmente, ela nem figura como um competidor no mercado móvel, de tão pequena que é sua participação.
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Híbridos: mistos de notebooks e tablets, modelos como o apresentado na Computex por Johnny Shih,
chairman da Asus, virão com o Windows 8.
Segundo Daniel Domeneghetti, sócio da consultoria E-Consulting, especializada em tecnologia, manter o monopólio não será um problema para a companhia. “A questão é saber se o Windows 8 é bom o suficiente para gerar uma ruptura no setor de tablets e celulares”, afirma. Nesse sentido, a Microsoft não tem poupado esforços para desenvolver um sistema completamente distinto das versões anteriores do Windows e mais amigável aos equipamentos portáteis. O botão iniciar, por exemplo, consagrado nas versões anteriores do sistema, vai deixar de existir. A interface do novo software é toda baseada em um conceito de blocos, facilmente manipuláveis nas telas de toque, como as dos tablets. Dessa forma, a companhia espera que o Windows passe a figurar não só nos computadores, mas em todos os equipamentos utilizados pelos consumidores, inclusive nos videogames.
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Novo visual: a interface do Windows 8 é baseada em blocos manipuláveis nas telas de toque,
como a dos tablets.
O console da Microsoft, o Xbox, também contará com a mesma interface. A grande arma da Microsoft para virar esse jogo, porém, está mesmo na sua base de clientes, especialmente os corporativos.Segundo uma pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas, 98% das corporações brasileiras utilizam o Windows em seus computadores. Desse montante, 70% ainda trabalham com o Windows XP, lançado em 2001. Para estimular a troca, a Microsoft deve encerrar o suporte para essa versão em 2014. “Nenhuma empresa vai querer continuar com o XP”, afirma Carlos Eduardo Calegari, analista da consultoria IDC, especializada em tecnologia. “A questão é se vão migrar para o Windows 7 ou para o 8.” Os clientes corporativos representam cerca de 30% da base total da Microsoft.
As empresas também podem ajudar a companhia a conquistar mais rapidamente uma parcela do mercado de tablets e smartphones. Isso porque é razoável prever que boa parte das corporações queira manter o mesmo sistema em todos os equipamentos utilizados pelos funcionários. Apesar dos bons prognósticos, há que se levar em conta a lentidão na migração dos clientes da companhia para a versão mais recente do software, o Windows 7. Lançado em 2009, ele ainda não cativou a maior parte das companhias, que ainda utiliza o velho XP. Como o Win­dows 8 só deve ser lançado perto do final do ano, é de se esperar que Apple e Google aumentem a distância para a concorrente. Mas é factível dizer que, finalmente, a Microsoft entrou no jogo
da mobilidade.
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Videogame polivalente
por João VARELLA
Algumas das principais empresas de tecnologia hoje atuam com o conceito de “jardins murados”.  De acordo com essa proposta, um aparelho funciona melhor em um ecossistema formado por produtos da mesma marca. Samsung, com o sistema All Share, e a Sony, com seu Tablet Sony, dão os primeiros passos nesse caminho, que foi consagrado pela Apple. A Microsoft sabe que está em desvantagem nessa competição e, por isso, resolveu usar seu Xbox 360 como um intruso nos jardins dos rivais.
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É o que ficou claro na apresentação do seu aplicativo SmartGlass, na semana passada, durante a E3, feira anual de games, nos EUA. O recurso, que funciona em aparelhos com Android, iOS e, claro, Windows Phone, faz do Xbox o centro de entretenimento da sala de estar. A partir do aplicativo, pode-se, por meio da televisão, navegar na web e usar arquivos de mídia de outros aparelhos. Será possível também tocar música ou exibir um vídeo guardado na memória do celular. Os aparelhos também poderão ser usados de maneira complementar. Com isso, a Microsoft se torna relevante na batalha dos televisores sem necessariamente lançar um produto desse tipo.

Fonte: Isto é Dinheiro

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