O conceito de Contra-Governança foi originalmente cunhado para explicar o processo de ruptura nas formas tradicionais de comunicação em massa.
A premissa do conceito é que a comunicação em massa explorava o fato de ser unidirecional – e portanto não participativa e colaborativa – para embutir em usuários-consumidores a sua visão de mundo (representada por seus padrões, tecnologias e produtos preferidos).
Os chamados canais de massa (tanto TV e rádio quanto canais de distribuição de produtos/ serviço em massa), com suas capacidades únicas de audiência, influência e capilaridade, foram utilizados pelas empresas como plataformas de transformar tendências (políticas, sociais, culturais, tecnológicas e de consumo) em verdades absolutas e inquestionáveis.
Afinal, quem ousaria duvidar da seriedade do apresentador do telejornal ou da qualidade dos produtos veiculados em seu intervalo? O mesmo se deu em tecnologia; afinal se os “experts” recomendam a utilização de determinada tecnologia, eles provavelmente fizeram testes criteriosos, certo? Se os “experts” dizem que a Apple é “cool”, ela provavelmente o deve ser, não é verdade? Quantas tecnologias não se tornaram padrão por terem sido ovacionadas pelos “experts” de plantão?
Contra-Governança chega à TI e questiona até Newton
A chegada da Web 2.0 e da mobilidade traz consigo as sementes da ruptura. A “massa” se transformou em “nicho” e o “macro” em “micro”. O marketing de massa se transformou em marketing one-to-one. O que aconteceu com Marketing se dará com a TI. A contra-governança chega a TI e esse é o conceito expandido que estamos defendendo.
A 3ª Lei de Newton, sob a ótica de negócios, pode ser compreendida sob a seguinte ótica: Quando um Ator A (“empresas) exerce uma força (“padrões impostos”) em B (“usuários-consumidores”), B simultaneamente exerce uma força sobre A (“aceitação de produtos e padrões”), em mesma intensidade e direção inversa.
“To every action there is always an equal and opposite reaction: or the forces of two bodies on each other are always equal and are directed in opposite directions.”
Esse movimento de Contra-Governança, caracterizado pelo descontrole de uso, formatos e padrões tecnológicos dentro das empresas (hoje muitos aplicativos e conteúdos são grátis, por download, customizável e imeditato) redefiniu, de certa forma, a terceira de Lei de Newton. Agora, a reação não se dá na direção contrária, mas sim em formato de dispersão. Na Web 2.0, as leis da mecânica são substituídas pelas leis do caos. A reação aos movimentos de A se darão em várias formas (concordar, reforçar, refutar, compartilhar, descartar), por vários grupos (heavy users, soft users, followers, prospects, etc) e em vários momentos (hoje, amanhã, nunca).
E mais: conceitos e leis tradicionais, como a que prega que 2 corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, bem como a lei de que um corpo não pode estar simultaneamente em 2 lugares ao mesmo tempo praticamente são sabotadas, com os diversos avatares e personagens criados pelos usuários.
E Agora Governança de TI?
A Governança de TI deriva da Governança Corporativa, que por sua vez se reforçou a partir dos escândalos que culminaram com as regulações de compliance da Lei Sarbanes Oxley. Uma das maneiras de se compreender a Governança de TI é entender que se trata de um modelo que visa padronizar as decisões, regras e gestão para encorajar comportamentos desejáveis para TI, da aquisição, desenvolvimento e customização, ao uso e disseminação. As intenções da Governança de TI são garantir a máxima performance e previsibilidade dos sistemas de TI, com o mínimo possível de riscos e impactos diretos e indiretos.
No entanto, isso é compreendido de maneira diferente por muitos usuários e consumidores de TI (sejam de sistemas, aplicativos, produtos ou conteúdos). A Governança de TI tem sido compreendida como um conjunto de regras arbitrárias, impostas por “alguém lá em cima” para defender práticas pouco funcionais. Para os usuários corporativos, principalmente os mais jovens (entre 20 e 30 anos), Governança de TI é algo que atrapalha sua experiência de uso/consumo da tecnologia e, ainda por cima, torna os fluxos internos mais burocráticos e lentos.
Afinal, para quê esperar (ou como justificar) que determinada funcionalidade ou aplicativo que o RH ou o Marketing precisam com rapidez seja implementanda em 2 ou 3 meses, com inúmeras indas e vindas de validação de escopo e testes, se a nuvem da Web oferece ferramentas em ASP ou aplicativos para download, gratuitamente ou a custos módicos, que fazem “quase” exatamente o que RH ou Marketing necessitam?
Os ingredientes para o surgimento de movimentos de Contra-Governança estão sobre a mesa. E rapidez, flexibilidade, disponibilidade, atualização e baixos custos são alguns deles. Isso afora, ainda existem outros ingredientes mais apimentados, como o questionamento à imposição de padrões, a defesa de interesses individuais e a oposição às relações unidirecionais.
Usuários-consumidores já estão buscando suas soluções de TI na “nuvem” e em formatos como o SaaS. O modelo tradicional de distribuição, precificação e desenvolvimento de TI já está sendo questionado.
De maneira similar ao ocorrido com o Marketing, a TI e seus CIOs deverão ser capazes de lidar com esse novo mindset de preferências e expectativas de seus usuários-consumidores.
A TI continuará a ter um papel indispensável na gestão operacional e na contribuição às formulações estratégicas da empresa. A diferença agora é que seu desempenho será avaliado também por outras variáveis, como capacidade de customização, flexibilidade e velocidade (time to market).