A Microsoft vai abrir parte dos APIs de seus produtos. Ou evolui, ou sai de cena. Mais uma vez cede ao óbvio. Já escrevi sobre isso.
Clayton Christensen diz que as empresas líderes que se tornam reféns de grandes clientes, de grandes produtos e de grandes modelos de negócios não inovam e são banidas do mercado. Quem não inova perde o bonde da competitividade. A Microsoft encontra-se mais uma vez em uma encruzilhada estratégica.
Tecnologia é sobre evoluir. Ganhar dinheiro a partir da inovação. Bill Gates sempre foi boi em ganhar dinheiro, mas nunca foi bom em inovação.
No mundo fechado dos anos 80-90, copiar/comprar o inovador e colocar o produto mais rapidamente no mercado funcionava. No mundo aberto, da Internet e do Intangível, empresas fechadas são bichos mais atrasados na escala darwinista da evolução corporativa.
Copiar e/ou comprar está no DNA da Microsoft desde sempre. Não prever ou reagir lentamente às rupturas também. Primeiro a Xerox com os sistemas operacionais tipo Windows. Depois o Netscape com os navegadores de Internet e Linus Torvalds com o Linux. No começo do milênio, seu maior rival de ego, Steve Jobs, com a revolução “i” do entretenimento online e, mais recentemente, a pedrada final do Google e os serviços online gratuitos. Nada disso veio da Microsoft. Ela não entende de cenários e conjunturas; entende de fazer melhor o que já faz. A Microsoft é boa em incrementar o que faz; e comprar quem ameaça sua posição, quem faz o que ela não faz, mas precisaria fazer.
Com sua estratégia fechada-dominante, no mundo fechado dos anos 80-90. a Microsoft dominou a onda dos sisops (sua vaca leiteira até hoje) e quase perdeu a onda dos navegadores. Mas conseguiu vencer. Havia fit entre sua estratégia e o comportamento do mercado.
No mundo aberto da Internet, era óbvio era que a gigante de Redmond jamais conseguiria vencer as redes de colaboração e produção compartilhada de softwares. É bom, é aberto, é barato. Perdeu a hegemonia de boa parte das categorias de produto, mas acima de tudo perdeu desenvolvedores, evangelizadores e admiração de muita gente do meio. Brigou enquanto deu. Gastou energia, dinheiro, prestígio e perdeu.
Gates se afastou obcecado pelo Google. Quer comprar o Yahoo!. O Yahoo! não quer. Quer dominar os serviços web. Mais uma vez vai tentar remendar comprando o que deveria ter enxergado… se fosse uma empresa aberta em seu DNA.
Mais ou menos como Tyson, Michael Jackson e os próprios Estados Unidos, a Microsoft paga o preço do domínio. Quem está no topo não enxerga bem o cenário. Se perde estrategicamente em seu esquema e decide errado, faz besteira.
Empresas abertas inovam. Empresas fechadas quebram. Essa é a lei da física. Leiam Clemente Nóbrega.
Agora a convergência móvel assusta. Google, Nokia e mais um bando de empresas de tecnologia, internet, mídia, telecom e eletro-eletrônicos são concorrentes da Microsoft. É terra de ninguém. Guerra por padrões, mercados, usuários, internautas, consumidores… tudo num liquidificador só temperado com legislações e regulamentações diferentes. Ë tudo muito incerto.
A Microsoft não vai quebrar. Tem dinheiro e capacidade de reação. A Microsoft pode ser líder em algumas linhas de produto, mas não vai mais ser hegemônica. Gates se tocou disso. Gates fez como Pelé. Saiu enquanto era o número 1.