A Internet foi originalmente projetada com o objetivo de facilitar a comunicação e o compartilhamento de informações entre universidades e unidades do Governo Norte-Americano, inclusive o Exército. No entanto, o projeto foi além e habilitou uma série de transformações sequer imaginadas à época de seu lançamento, na década de 1970.
A Internet permitiu o aparecimento de uma vila global e intensiva em informação onde as pessoas estão apenas a um clique de distância das outras.
O impacto nas organizações não foi menor. Indústrias inteiras e, com elas, milhares de empresas e empregos foram substituídos e outros tantos foram (re)criados (alguns sequer existiam há poucos anos).
Vejamos alguns desses setores e quais são suas perspectivas futuras:
1. Agências de Turismo
Como era
Agências de Turismo desfrutavam de tarifas especiais junto a empresas de aviação e hospedagem em troca do direcionamento de seus clientes a essas empresas.
Além disso, capitalizavam sobre os custos de transação e incerteza associados ao planejamento de uma viagem em razão da dificuldade de encontrar informações confiáveis sobre destinos, preços, taxas de câmbio e demais informações.
Como se deu a ruptura
De início, operadoras de aviação low cost optaram por vender passagens e serviços diretamente aos clientes por meio da Internet
Além disso, inúmeros sites de comparação de preços e recomendações reduziram a assimetria de informações e permitiram aos próprios consumidores acessarem as informações necessárias ao planejamento de suas viagens.
Finalmente foram criados diversos portais de turismo que utilizam intensamente tecnologia e são capazes de oferecer pacotes, passagens e hospedagens a preços mais competitivos que os preços de muitas agências.
Futuro
O mercado tem se especializado. De um lado, tem-se a criação de “super-agências”, capazes de adquirir pacotes em grandes volumes e, com isso, oferecer pacotes turísticos a preços ultra-competitivos aos clientes.
Outras empresas têm se especializado em nichos de mercado como roteiros de cunho religioso, para a 3ª idade ou lugares exóticos. O modelo de negócios dessas empresas é baseado em atendimento personalizado e preços premium.
Turismo cada vez mais será o subproduto de serviços com entretenimento. Desta forma, a expansão do produto (ex. uma viagem, um navio, um restaurante) pelos caminhos da experiência interativa, intelectual e até sensorial, possibilitada pela Internet, redefinirá a indústria conhecida hoje como T&E (Turismo & Entretenimento), ainda mais quando se considera o conjunto de tecnologias disponíveis capazes de possibilitar, por exemplo, leilões de assentos vagos em aviões ou superpreficação dos melhores quartos em hotéis concorridos, ou ainda tours experienciais fantásticos em ambientes remotos como geleiras, grutas e desertos.
2. Indústria Fonográfica e Cinematográfica
Como era
Músicas e filmes eram armazenados em uma mídia física (como LP, CD ou DVD) para serem então distribuídos em locações selecionadas de varejo.
Como se deu a ruptura
Tecnologias de compressão (tipo MP3 e Wav), de compartilhamento (tipo Kazaa ou Torrent) e de cópia romperam com o modelo tradicional de várias maneiras.
De repente, diversas barreiras ao consumo e a distribuição caíram, pois os consumidores foram capazes de receber a mídia em formato digital em sua casa, em vários devices (computadores, mp3 players, celulares, etc) e, em muitos casos gratuitamente (graças a pirataria), podendo compra ou adquirir sem custos o limite de uma faixa de um disco todo (aqui, o produto se desconstruiu).
Futuro
Produtoras de conteúdo têm optado por fontes adicionais de receita como o licenciamento de marcas, já que as receitas com venda de CD e DVDs e até mesmo cinema vêm diminuindo há alguns anos.
No caso da indústria cinematográfica, algumas empresas apostam em versões 3D que permitem preços superiores e que ainda não são pirateadas. A distribuição de filmes cult ou com custos inferiores ao padrão holiwoodiano de produção também tem sido um caminho trilhado por vários estúdios.
A indústria fonográfica, por sua vez, ainda luta para definir o modelo ideal. De um lado, se vêem obrigadas a participar do iTunes e desfrutarem de margens reduzidas.
De outro, tentam inovar; um caso interessante foi o modelo de pague quanto quiser adotado pela banda inglesa Radiohead recentemente. Mesmo assim, o desafio de distribuir suas músicas em canais distintos, como móbile, somado à necessidade de agregar valor ao seu produto (ex. configurar como entretenimento) – e ganhar com isso – é uma barreira ainda não vencida.
3. Operadoras de Telefonia Fixa
Como era
Usuários eram tarifados em função de uma combinação de tempo e distância (tanto para telefones móveis quanto para telefones fixos).
Como se deu a ruptura
A Tecnologia VOIP associada à popularização da banda larga permitiu realizar chamadas a preços próximos a zero (independente de tempo ou distância) e minou o modelo baseado em assinatura e pulsos das operadoras fixas.
A principal mudança se deu nas expectativas de valor do usuário que estão cientes que os custos associados à telefonia são muito baixos (tanto que o Skype não cobra ligações entre si) e, portanto, o desembolso de grandes quantias não se justificaria – pelo menos do ponto de vista econômico.
Futuro
Operadoras fixas se anteciparam a essa tendência e desencadearam um movimento de aquisição de empresas de Internet banda larga e telefonia móvel, formando empresas triple play (telefonia fixa + móvel + banda larga).
A próxima etapa é a convergência de toda essa infra-estrutura aos demais equipamentos eletronicamente habilitados e o desenvolvimento de novos modelos de serviços e ofertas, como Entertainment as a Service.
As implicações disso ainda não são claras, pois resultará na redefinição de cadeias inteiras de valor, onde, por exemplo, empresas tradicionais de mídia poderão associar-se aos fabricantes de equipamentos diversos e permitirão ao usuário-internauta-consumidor acessar conteúdo em devices como a TV Digital, Automóveis ou a Geladeira.
4. Indústria da Propaganda (Emissoras Rádio e TV, Jornais, Empresas de Outdoor, etc)
Como era
Tradicionalmente seu modelo de negócios foi baseado na venda de audiência para anunciantes a partir da crença de que uma parcela da audiência poderia ser influenciada pelas propagandas e, portanto, se interessar em adquirir o produto/serviço anunciado.
O que sempre esteve em questão foi a mensuração dessa parcela.
Como se deu a ruptura
A popularização da Internet e da propaganda online alterou profundamente as expectativas de anunciantes quanto ao retorno dos investimentos em propaganda.
Isso se deu em função da possibilidade de se medir eficazmente a taxa de cliques (e, portanto, audiência) e também à quantidade de cliques que foram convertidos em vendas.
Além disso, o Google propôs um modelo no qual os anunciantes somente pagam pelos cliques efetivados.
O resultado prático disso é que a mensuração dos gastos com publicidade online pode ser justificada facilmente ao passo que a off-line não.
Em setembro de 2009, na Grã-Bretanha, os gastos com publicidade na Internet ultrapassaram, pela primeira vez, os gastos com propagandas na televisão. A questão é que, diferente do ocorrido nas TVs, parece haver uma tendência à dispersão dos gastos.
Futuro
Jornais e revistas têm sido aqueles que mais sofrem. De um lado com a redução da receita com anúncios e, de outro, com a dificuldade de cobrarem pela leitura do conteúdo na Internet (já que as expectativas dos consumidores é a de acessar conteúdo gratuitamente).
Não parece ainda haver um roteiro claro a ser seguido. Alguns grupos têm optado por se associarem e juntar forças (como a recente parceria entre Grupo Estado e Microsoft). Outros grupos têm optado pela criação de barreiras (vide Murdoch) cobrando pelo acesso do conteúdo do jornal Times.
Assim como a Telefonia, esse é outro segmento fortemente impactado pela Convergência, em que o caminho a ser trilhado passa pela capacidade de extrair e gerar valor em um mercado ainda inexplorado e indefinido.
Internet: Redução das Ineficiências de Mercado e Novas Expectativas dos Consumidores
A Internet reduziu drasticamente o custo de criar, enviar e armazenar informações, ao mesmo tempo em que facilitou a colaboração e compartilhamento destas. Os custos de transação relacionados à pesquisa por produtos, fornecedores e preços diminuíram significativamente e, com isso, diversas indústrias foram redefinidas.
No entanto, talvez a maior mudança deu-se na percepção de valor dos usuários, que passaram a usufruir de uma variedade de produtos e serviços a preços ínfimos ou próximos de zero; ou que ainda exigem uma revisão da precificação de muitos serviços, já que a Internet possibilita produzir tais serviços a preços mais competitivos.
Nesse artigo, buscamos ilustrar como esse conjunto de mudanças alterou drástica e rapidamente indústrias inteiras (muitas das quais historicamente estáveis e lucrativas). O ponto aqui é: ninguém está a salvo e, portanto, as seguintes questões, dentre outras, devem ser feitas pelos executivos de todos os setores:
Como a Internet tem contribuído para alterar as expectativas dos meus consumidores?
Que novas tecnologias foram habilitadas pela Internet que permitem aos consumidores – ou a própria empresa – usufruir/oferecer os produtos/serviços de uma maneira mais competitiva?
Que ineficiências de mercado minha empresa explora e como a Internet pode superá-la/substituí-la?