Valor Econômico traz especial sobre Seguros

Sonho Seguro / Noticias, Mraço de 2020

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Denise Bueno
Escrito por Denise Bueno

O Suplemento traz um cenário da evolução do setor antes da crise do Covid-19 e o quanto a pandemia deve afetar as companhias em 19 textos produzidos pela equipe de freelancers e editado pelos editores do jornal

Assim como os mercados globais, que buscam uma direção diante da evolução da pandemia do coronavírus, o mercado segurador corre contra o tempo para proteger funcionários, clientes, parceiros e acionistas. Os números de infectados e mortes pela pandemia de coronavírus segue aumentando na Europa e nas Américas, enquanto governos e bancos centrais ao redor do mundo continuam disparando munição contra os efeitos econômicos da Covid-19. As bolsas asiáticas e europeias caem, o petróleo opera na mínima e o dólar sobe.

O número de casos confirmados de Covid-19 em todo o mundo chega a 723.700 na manhã desta segunda-feira, incluindo 143.025 nos EUA. No Brasil, o número de mortes pelo vírus chegou a 136 ontem no país, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, a briga política tem atrapalhado o ordenamento de uma politica capaz de mitigar os efeitos da doença e da economia.

Independentemente disso, as empresas do setor de seguros adotam medidas para gerenciar tamanho risco, que cresce a cada dia, afetando a todos. Veja abaixo um resumo das 19 matérias publicadas no especial de Seguros do Valor Economico, que podem ser lidas na íntegra por assinantes no portal ou na edição impressa que circula nesta segunda-feira.

Cenário– A indústria de seguros começa a fazer as contas dos estragos da pandemia do coronavírus. A paralisação de importantes cadeias de produção, o fechamento de comércios, a adoção de medidas de isolamento social e a perspectiva de recessão da economia, perda de renda da população e aumento do desemprego tendem a impactar diretamente na geração de prêmio em 2020. E, embora a pandemia seja um risco excluído da maioria das apólices, haverá impacto na sinistralidade e no aumento de indenizações em algumas linhas de negócios.

Pandemia – Ainda é cedo para mensurar os impactos da crise provocada pelo coronavírus sobre as companhias de seguros e resseguros internacionais, dizem os analistas. Mas a pandemia já começa a provocar alterações de ratings e perspectivas. “O coronavírus é único em seu escopo e complexidade de possíveis perdas, e a incerteza em relação aos impactos de curto prazo exacerba ainda mais a situação”, diz em um comunicado a agência de rating AM Best. Em 16 de março, a agência revisou para negativa a perspectiva da indústria de seguros de vida e renda (annuity) nos Estados Unidos, explicando que as condições econômicas atuais são mais propensas a afetar os balanços patrimoniais desses segmentos do que os de outros ramos, como propriedades, acident es ou de saúde.

Auto – As mudanças de comportamento trazidas pela Geração Y, que não enxerga mais o automóvel como um objeto de desejo, desafia as seguradoras que atuam na modalidade “autos”. “O cliente deseja tecnologia, aplicativos que o auxiliem na condução e na redução de riscos, quer coberturas enxuta no padrão de suas necessidades”, afirma Walter Pereira, presidente da comissão de automóvel da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

Investimentos – Preparando-se para atuar num cenário de juros baixos por um longo tempo, as seguradoras brasileiras estão tomando iniciativas para melhorar as suas operações e as experiências dos segurados. Por meio do controle de despesas e sinistros e do investimento em novas tecnologias, elas buscam contrabalançar a perda dos resultados financeiros. Se, no passado, estes eram tão elevados que costumavam mais do que compensar ineficiências, hoje isso já não é mais verdade.

Fundos – A alta volatilidade no mercado acionário nas últimas semanas levou os principais fundos de previdência em ações, balanceados e multimercado a acumularem perdas expressivas, que anularam todo o ganho que vinham obtendo no ano. Na categoria previdência ações indexadas, o tombo de janeiro a 18 de março foi superior a 40%. Já o previdência balanceado com exposição em ações acima de 49% dos ativos caiu quase 30%. Mesmo os fundos balanceados até 15% encolheram 5%, e o produto que vinha se tornando o ‘queridinho’ do setor, o multimercados, na sua classificação livre, teve 7% de seu patrimônio reduzido.

Previdência– Com 90% dos funcionários em home office e foco na comunicação com os clientes, a Brasilprev, que detém a maior carteira de previdência privada do país, espelha bem o momento que o setor vive. A indústria tenta minimizar os impactos financeiros e físicos que a disseminação mais acelerada do coronavírus trouxe para o mercado de capitais e para a economia como um todo. Este é, segundo seus participantes, um dos cenários de maior estresse e imprevisibilidade já experimentados.

Risco Cibernético – No dia 6 de março, cinco dias antes de o coronavírus ainda ser reconhecido como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde, a agência americana que cuida da segurança cibernética dos EUA (CISA) distribuiu um comunicado alertando que todos ficassem atentos a possíveis ataques cibernéticos por meio de e-mails com anexos ou links que direcionavam os internautas a sites fraudulentos, que podiam coletar dados sigilosos ou pediam doações para vítimas da covid-19. Uma semana mais tarde, o hospital universitário da cidade de Brno, na República Tcheca, que faz testes para o novo vírus, sofreria um ataque cibernético que o obrigaria a desligar todos os seus sistemas e transferir pacientes para outras instituições.

Seguro Cibernético 2 – A proximidade da entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), prevista para agosto, está impulsionando a contratação de seguros contra riscos cibernéticos por parte das empresas. O mercado aposta no potencial desse tipo de proteção não só porque a lei estabelece pesadas multas em caso de vazamentos de dados, mas também porque o crescimento da utilização da tecnologia vem acompanhado do aumento dos riscos de ataques cibernéticos.

Insurtech  – As insurtechs prometem novo fôlego ao mercado segurador brasileiro e o total de parcerias com as grandes seguradoras é crescente. Cristiano Barbieri, vice-presidente de estratégia digital, inovação e tecnologia da SulAmérica, diz que a seguradora mantém atenção constante em startups que ajudem a resolver problemas nos principais ramos de atuação, entre eles, seguro saúde. Um exemplo é a parceria com a Docway para atendimento médico em domicílio para beneficiários de planos de até 12 anos e acima de 65. Disponível em 50 cidades brasileiras, a ferramenta é voltada para casos não emergenciais.

Tecnologia – Fornecedores de tecnologia estão despachando para o mercado segurador soluções de gestão de contratos, serviços on-line que desafogam as demandas dos call centers e softwares que identificam novos perfis de consumidores e não clientes (prospects). Para fechar mais negócios, direcionam as ofertas para seguradoras de médio porte, menos automatizadas, e apostam em ferramentas de produtividade que podem acelerar a contratação de apólices. Em alguns clientes, o prazo foi reduzido de oito para um dia. “As seguradoras querem soluções que as diferenciem da concorrência e garantam um melhor atendimento para o usuário final”, analisa Daniel Domeneghetti, CEO da consultoria de tecnologia E-Consulting. Também investem para entender os hábitos dos consumidores e ganhar agilid ade na c onclusão de sinistros e reembolsos, diz.

Inovação  – Os números globais fazem parte de um levantamento da consultoria IDC e da Liferay, fabricante americana de software. O estudo indica um impulso nas compras de sistemas ligados principalmente à melhoria da experiência do cliente. As ferramentas mais procuradas nos próximos dois anos devem ser baseadas em inteligência artificial (IA), com alta de 225 % no período, além de projetos de computação em nuvem (123%), internet das coisas (84%) e big data (68%). No Brasil, a Sompo Seguros investiu cerca de R$ 260 milhões em desenvolvimento e melhoria de recursos de infraestrutura entre 2018 e 2019, de acordo com Guilherme Muniz, diretor de inovação e tecnologia. A equipe trabalha alinhada às áreas de negócios para acelerar projetos que melhorem a experiência do cliente e auxiliem os corretores no aten dimento, diz.

Plataformas digitais – Depois dos comparadores on-line de seguros, as startups avançam em plataformas digitais para venda de produtos como seguro de automóvel e proteção para celulares e bicicletas. Segundo levantamento da empresa de inovação aberta Distrito, em parceria com a KPMG, há 113 insurtechs no Brasil, avanço de 47% em relação ao mapeamento anterior, de 2018. Muitas dessas empresas têm parceria com grandes seguradoras e não querem acabar com a figura do corretor na venda dos produtos.

Bancos Digitais – Seguro é tido como um dos produtos essenciais na estratégia dos bancos digitais e fintechs, que buscam a rentabilidade desde o começo de suas operações enxutas e totalmente digitalizadas. XP Investimentos e Banco Inter afirmam que a operação de seguros já nasceu rentável por usufruírem da plataforma do banco que já estava consolidada. “A atuação da XP em seguros segue a lógica da gestora: criar produtos que o mercado não oferece, vender somente aquilo que compraríamos e ajudar nossos clientes com proteções que agregam valor ao planejamento financeiro”, diz Roberto Teixeira, presidente da XP Seguros. Apesar de ter uma seguradora, a maior gestora de investimentos do Brasil oferece produtos de outras companhias, como Icatu, SulAmérica, Zurich em previdên cia, e P rudential, MetLife, MAG Seguros, Tokio Marine e também Zurich em vida. “Temos um portfólio completo em vida e previdência, e está no nosso radar expandir o leque de produtos para a nossa base de clientes.”

Varejistas – As redes varejistas que estavam otimistas com a retomada forte das vendas de seguros em canais físicos e virtuais perderam um pouco o fôlego com o fraco desempenho verificado desde o fim do ano até fevereiro. Agora, com o cenário mais cinzento por causa da pandemia do coronavírus, as estratégias e expectativas de faturamento serão revistas. Apesar de implementarem um esquema de “guerra” para segurar as vendas com o período de quarentena, a incerteza quanto a emprego e renda dos trabalhadores acende um sinal vermelho nas expectativas de todos.

Infraestrutura – A disparada do dólar, o fechamento de atividades para atenuar a pandemia de coronavírus e a consequente queda de demanda estão deixando os setores de infraestrutura e o de seguros em alerta máximo. Seguradoras, concessionárias e escritórios de advocacia estão analisando os contratos de concessão e Parcerias Público-Privadas (PPPs) assinados e as apólices firmadas a fim de avaliar os próximos passos. A retração da demanda é considerável, o que poderá levar à discussão sobre a existência de um “caso fortuito” ou de “força maior”.

Concessões – Governo federal e Estados tinham uma ambiciosa agenda de projetos de concessão. Mais de 20 ativos poderiam ser licitados neste ano, com destaque para a via Dutra, rodovia que interliga São Paulo e Rio de Janeiro e que deverá contemplar R$ 30 bilhões em investimentos durante os 30 anos de contrato; e a realização da sexta rodada de concessões de aeroportos para ampliação, manutenção e exploração de 22 terminais, distribuídos em três blocos e investimentos de R$ 6,7 bilhões. Juntos, os terminais respondem por 11% dos passageiros pagos movimentados no mercado brasileiro de transporte aéreo.

Pandemias passadas – Globalmente, mais de 400 epidemias e pandemias foram registradas nas duas últimas décadas. Entre 2001 e 2016, elas causaram perdas econômicas de US$ 197,7 bilhões, conforme estudo da consultoria de riscos Marsh. No Brasil, a epidemia do zika vírus gerou prejuízo de US$ 16 bilhões (cerca de R$ 80 bilhões, em valores atuais) na atividade econômica local. Parte do rombo é decorrente da perda de produtividade nas companhias, com redução de força de trabalho, interrupções nas cadeias de suprimentos e queda na demanda.

Resseguros – Debatida nos últimos 20 anos, a nova norma contábil IFRS 17 foi adiada pela segunda vez pelo Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB, na sigla em inglês). Prevista para entrar em vigor em janeiro de 2022, agora as novas diretrizes passarão a valer a partir de janeiro de 2023, segundo informou há duas semanas o órgão responsável pelas chamadas Normas Internacionais de Demonstrações Financeiras (IFRS, em inglês). A expectativa é que as alterações provoquem uma grande transformação nos balanços das seguradoras mundo afora. Ainda assim, a complexidade das regras desafia a adaptação das companhias, num movimento que precisa incluir mudanças de processos, controles internos, sistemas e tecnologias. “A nova norma muda de forma profunda a mensuraç ã o e preparação de demonstrações contábeis das companhias de seguros”, afirma Carlos Matta, sócio da PwC Brasil.

Resseguros 2 – A esperança que o mercado de resseguros alimentava até pouco tempo de recuperação da economia em 2020 e consequente aumento do volume de prêmios, dificilmente irá se materializar. Para o vice-presidente e analista sênior da agência de rating Moody’s, Diego Kashiwakura, os eventos recentes adicionam incerteza em relação aos resultados de subscrição já que a sinistralidade geral deve aumentar. “Se isso de fato ocorrer, a rentabilidade das resseguradoras vai deteriorar, uma vez que os resultados financeiros estão comprimidos por conta do nível baixo de taxas de juros”, diz.

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