Quando a Internet se estabeleceu como plataforma comercial, após o estouro da bolha pontocom, iniciou-se evolutivamente seu processo de entrada no mundo corporativo. Aos poucos, a mistura da TI tradicional com a rede mundial de computadores foi ficando evidente. Nessa intersecção, criou-se a chamada convergência digital, que no fundo traz a convergência de negócios em sua garupa.
Em 1999, o presidente da Microsoft, Bill Gates, fazia o balanço do ano. A empresa tinha acabado de lançar o Windows NT, para ambientes corporativos, e o Windows CE, para dispositivos móveis.
Em seus discursos, Gates se dizia preocupado com o Linux, Palm e Sun Solaris. Já em 2008, a preocupação da Microsoft passou a ser concorrer com o Google. A empresa de Redmond flertou para adquirir o concorrente direto Yahoo! e ser uma gigante de buscas e da publicidade online.
Em menos de dez anos, a comparação do noticiário do setor é exemplar para identificarmos as mudanças no mercado. Internet e telefonia são praticamente sinônimos, a televisão está a um passo de ir para o celular, há pontos de conexão com banda larga nos principais centros comerciais das cidades, o computador virou um storage de mídia e entretenimento e isso é só o começo. A tendência é que essas misturas ocorram ainda com mais profundidade, a caminho da ubiquidade e da computação transparente.
Por exemplo, tal cenário fortalece a possibilidade do tão falado escritório móvel e do trabalhador remoto. Sem domínios físicos, a infra-estrutura tecnológica passa a ter valor pelo que ela gera e pelas possibilidades de inovação que podem ser criadas com ela.
Inovar constantemente tem sido a receita de empresas como Google e Nokia.
O mecanismo de busca Google surgiu no meio da bolha pontocom com uma interface simples, oferecendo um produto gratuito e pouco valorizado – as buscas na Internet. Na época, grandes destaques na mídia nesse setor eram o Altavista, o HotBot (ligado à revista Wired), o Ask.com, etc. O Google era o patinho feio.
O tempo provou que todos estavam errados. Os fundadores do Google não apostaram na busca, essencialmente, mas colocaram suas fichas no algorítmo do PageRank. Quando a imprensa e o mercado da época perguntavam qual era o negócio em cima disso, seus fundadores diziam claramente – publicidade. Isso bastou para todo mundo encher os sites de banners e penduricalhos propagandísticos de gosto duvidoso. E o que fez o Google? Criou um meio para que qualquer pessoa pudesse anunciar associando sua mensagem ao conteúdo que outros produziam na Internet. Assim nasceu o Adsense. Hoje, o site é a típica economia de escala na era da Sociedade em Redes.
Recentemente, o Google também mostrou ao mundo como será a economia dos widgets e das API abertas. Por essas e outras, é bom prestar muita atenção quando a empresa diz que o futuro é cloud computing. Da mesma forma que foi democratizada a publicidade em cima da fartura de conteúdo, o mesmo deve se dar para a oferta de aplicativos (SaaS, se preferir) atrelados às estratégias de marketing digital. Igualmente, quando se fala que não quer produzir um novo iPhone, mas sim ganhar o mercado com softwares pelo projeto Andróide, é bom ficar atento.
O Google é uma mostra de inovação constante. Mas, como a empresa é típica da bolha pontocom, muitos não o levam a sério ainda. Por incrível que pareça, há muitos executivos que só não adotam uma estratégia de inovação constante porque acham que isso é uma ressaca do início do século e logo vai passar.
A esses, a Nokia é o melhor exemplo. A empresa nasceu como uma iniciante no setor de celulose, em 1865. Logo após a Primeira Guerra, passou a fabricar botas e outros materiais de borracha. O conglomerado foi, por essa época, introduzido a um novo mundo de máquinas chamadas computadores. Foi aí que sua história de tecnologia da informação começou. Na década de 60, a Nokia começou a tatear o mercado de comunicação por rádio. A década de 70 foi essencial para a empresa, que ganhou o direito de construir uma rede de telefonia internacional para os países escandinavos. Nos anos 80, criou o que é considerado o primeiro telefone móvel do mundo, o Mobira Cityman 900, que pesava quase 1 Kg e custava mais de U$ 6 mil.
Mas, a empresa nunca foi o que é hoje. A década de 80 terminou com o suicídio do então CEO, Kari Kairamo, em meio a uma desvalorização surpreendente da companhia após compras insanas que a fizeram crescer, mas não menos que os prejuízos acumulados. Foi Jorma Ollila, seu sucessor, que botou a empresa nos trilhos. Ele vendeu operações e investiu todo o dinheiro disponível – e dos próximos ciclos de planejamento – no mercado de telecomunicações e nas pessoas que pudessem promover esse lado da empresa.
Foi na década de 90 que a empresa se tornou o que se conhece hoje. Sua maior concorrente à época era a Motorola, ancorada no sucesso do celular Star-tac, pequeno e dobrável. Nessa época, a Nokia decidiu investir no gerenciamento e enxugamento de processos. Imitando a indústria automobilística, a marca criou poucas plataformas para os celulares e adotou como estratégia central a diferenciação em features visíveis e de grande aceitação junto ao consumidor. Ao mesmo tempo, se dedicou a melhorar a interface pela qual o usuário controlava o aparelho. Também, começou a operar de forma global, diminuindo custos e se aproximando de mercados regionais. Tudo devidamente interligado por redes, desde toda a cadeia produtiva até qualquer profissional da empresa. Nessa tocada, ultrapassou a Motorola como principal empresa de celulares do mundo.
Não satisfeita, a Nokia já há algum tempo aposta suas fichas no Symbian, um sistema operacional para plataformas móveis. Nisso, vemos uma convergência de mercado mais a frente, uma batalha entre Google Andróide, Symbian e Microsoft Windows Mobile. À exceção da MS, essas plataformas são livres, o que mostra a opção clara de inovação que se segue. A idéia é utilizar o mundo dos desenvolvedores para que uma dessas plataformas seja a mais usada nos dispositivos móveis do futuro próximo. De quebra, se comoditiza o principal produto do maior concorrente, o SO da Microsoft. É a mesma estratégia que Bill Gates usou com a IBM, desvalorizando sobremaneira o hardware e fortalecendo o software operacional e os aplicativos.
O que é tecnologia e o que é estratégia nesses dois cases de sucesso em inovação? Impossível separar. Mas, é assim que tem que ser atualmente. A tecnologia é nativamente o processo para a inovação e isso deve ocorrer de forma constante, sempre com foco no mercado e se planejando o futuro.
Contudo, é melhor esclarecer uma coisa antes. Por si, a tecnologia não garante qualquer competitividade ou inovação. O real valor de toda a infra-estrutura de máquinas e servidores de aplicativos, todas as camadas de software e todos os links com parceiros de negócio é o modo como tudo isso opera. Os benefícios mais evidentes trazidos pela Internet estão no posicionamento estratégico, otimização de processos ou mesmo no gerenciamento de conhecimento.